Houve uma vez, quando eu era criança, que minha mãe aceitou vender alguns pães caseiros que uma colega dela fazia. Essa foi uma das épocas em que não tínhamos absolutamente nada para comer em casa, além de água e açúcar. Minha mãe tinha um trabalho como vendedora de livros, mas só recebia se vendesse e havia várias meses que ela não vendia nada; contudo, mesmo sem receber ela tinha que ir trabalhar, do contrário o dia dela era descontado da venda que fizesse. O jeito que encontramos para tentar vender algum pão foi: ela ia trabalhar e eu e meu irmão saíamos para oferecer de porta em porta. Cada pão custava 1 real, o que na época era suficiente para comprar farinha de milho para fazer cuscuz e 1 pote pequeno de margarina, então nossa meta era vender ao menos 1 pão por dia. Achamos melhor não comer o pão, pois sabíamos que não teríamos dinheiro para pagar depois, e também não aumentamos o preço, porque já estava difícil vender a 1 real, imagine a mais caro...
Era um dia de muito sol e não tínhamos conseguido vender nada desde o dia anterior, em que havíamos começado. Resolvemos então dar uma pausa, mas antes, resolvi me dirigir até duas senhoras que estavam sentadas na calçada, para ver se conseguia vender. Das duas senhoras, somente uma me deu atenção, a outra me olhou com repulsa e virou o rosto. A que olhava pra mim disse que não queria pão, eu insisti, ela disse não novamente. Então senti meus olhos lacrimejarem, disse obrigada e virei as costas para ir de encontro ao meu irmão. A senhora então me chamou, me perguntou por que eu estava tentando vender pão caseiro amanhecido, eu contei toda a história para ela. Ela chamou meu irmão, tirou 2 reais da bolsinha que segurava e entregou à ele, dizendo que não ia querer pão porque já havia comprado naquela manhã, nos mandou ir pra casa e disse para nos cuidarmos. Quando chegamos em casa fizemos uma oração, dividimos um pedaço de pão, e esperamos ansiosamente nossa mãe chegar.
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