quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Estava dentro do metrô,cansada depois de um dia de calor e muito trabalho quando comecei a reparar num homem que estava sentado.Ele tinha os olhos verdes,aparentava ter uns 40 anos e segurava uma bengala.Era bem charmoso até.Percebi que do lado dele estava sentada uma moça de cabeça baixa com uma menininha no colo.Os dois usavam alianças,então deduzi conta que eram casados e a menininha era filha deles.
A menina brincava de jogar beijos com outra criança sentada no assento da frente e parecia adorar aquela brincadeira,pois começou a jogar beijos pra todos os lados.Então ela pediu pro pai olhar ela jogando um beijo e o pai olhou para o lado contrário... "nossa,ele é cego!",pensei. Estranhei o fato de os olhos dele darem a impressão de ser normais...
Surgiu um lugar ao lado do casal com a criança e logo me sentei,já com as pernas doendo de ficar em pé o dia todo!
Chengando ao trecho em que o trem passa em frente a um tipo de parquinho,a menina que jogava beijos pediu pra mãe vira-la para janela pra que ela pudesse ver o parquinho;a moça,então de cabeça baixa,levantou a cabeça,virou pro meu lado,colocou a menina sentada e perguntou : "Dá pra ver?" .Foi quando ela se virou que pude ver os olhos dela..ela também era cega.E era também uma das moças mais bonitas que já vi...Fiquei pensando se um dos dois já nasceu cego,se alguma vez eles puderam ver o rosto do companheiro ou da filha...
Chegou a minha estação e já fui levantando pra ir embora,mas antes dei uma última olhada naquela família e vi que os três estavam abraçados,a mãe fazia cafuné na menina e o pai acariciava a mão da mãe.Dei-me conta que a visão,na verdade,era a última coisa que importava realmente para eles.
A porta do trem abriu e eu desci,olhei pela janela e a menina olhava pra mim:Ela sorriu e me mandou um beijo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Esse seu texto é maravilhoso,Lídia!Admiro a forma dice com que vc vê coisas que passam desapercebidas.

H. 0.9 disse...

♥ - Epifanias.

Lucas "AlephDeath" J. Santana disse...

Talvez de fato a última coisa que importe à eles seja mesmo a visão,afinal por vezes ela ofusca,confunde,atrapalha... Mas é um grande exemplo de como é possível ser humano mesmo sem ter coisas que achamos tão indispensáveis. Adorei o texto. Bjs

Deivison disse...

Caramba Lídia...achei incrível você ter essa sensibilidade pra coisas que ao ver de muitas pessoas são pequenas demais pra perceber...muito legal! Parabéns!

Ana Karina Mag disse...

Uau!!!
sem palavras...